Da Chegada ao fim-de-semanaSó eu para vir por este caminho de cabras, onde toda a gente estaciona onde bem lhe aprouver e onde o acesso à minha rua é um cotovelo de 85º que ainda tem um pilar para proteger a casa da esquina dos eventuais “descascamentos” de parede que lhe possam acontecer. Saldo: “descascamento” da parte cimeira da minha roda, com respectiva mossa.. Nem quis olhar... Começou bem o fim-de-semana...
Jantar fora com a MamãeMamãe pede os carapaus mas são demasiado pequenos para grelhar e mamãe não come fritos. Mamãe pede para ver os restantes peixes e extrapola quando percebe que devem ter no mínimo 8 dias (“só os olhos dos bichos...”); Mamãe opta pelo Bacalhau Com Todos (“Posta pequena, que eu como pouco”), enquanto eu me delicio com um previsível bitoque. Depois da lavagem cerebral da última médica a que fui, dedico-me a preencher o meu prato com uma insípida salada de cenoura crua e até o maravilhosos patê que vem para a mesa é rejeitado (mas com dó e piedade, meus pelos menos). O empregado pouco convencido questiona-me “Mas porquê, não gostou do aspecto?”. ”Não”, atiro-lhe. “Não se trata disso. Não posso.” E o último golpe no coração do empregado foi a rejeição das sobremesas. ´”É só um café. Com adoçante”. “É que estamos a fazer dieta”, atalhei. (e pensei para mim : “A minha mãe por razões gástricas eu por razões estéticas”...
Dia 1
Num cafézinho aqui da terra
Uma senhora daquelas que alugam uma hora da mesa de café para estar à conversa sobre as novidades, depois de passar um breve olhar pelo Correio da Manhã do dia:
“Mais um que morreu... ai e depois não dão mais meios aos guardas... não lhes dão armas...Se ele ao menos estivesse armado...”, suspirou.
“Mas ele morreu de ataque de coração”, retorquiu a dona do café.
“Mesmo assim, coitadinho. Morreu porque ia atrás dos ladrões. Se ao menos tivesse armas isto não tinha acontecido”.
Eu mordi o lábio para não me rir, enquanto juntava o adoçante à minha chávena.
Dia 1 à noitePor coincidência, um amigo de uma amiga minha, que eu conheço mais de vista, estava também no Algarve a trabalhar. Quando soube que eu cá estava pediu à minha amiga o meu telefone e convidou-me para jantar. Nos tempos que correm, não dá para recusar jantares e convites para sair (que tenho eu a perder?) e então lá fui.
O jantar foi óptimo, com uma comida soberba, bem confeccionada e com uma vista magnífica para uma Marina iluminada, onde se destacava a quietude da noite e os neóns dos hóteis. A decoração do restaurante era bonita e o vinho saboroso.A conversa fluiu ao sabor das nossas vidas e sonhos (uns frustrados) e dei por mim, a não fazer o mínimo esforço para me mostrar encantadora, mas a saber que estava ainda assim a fazer estragos do outro lado da mesa. Quando saímos, eu soltei o cabelo que jazia apanhado no alto da cabeça (se uma senhora é convidada para jantar, arranja-se não é?) e com a minha arma capilar parece que soltei também a coragem do meu interlocutor, que me encheu de elogios e convites para férias, no bar onde parámos para beber um copo.
Isto leva-me a concluir que há tantas, mas tantas almas desirmanadas por aí, mas que sou extremamente exigente no que toca a embevecer-me por alguém. Gosto de gente difícil, no autêntico sentido da palavra, que me gere desafios de alguma ordem. Ou porque pertencem a um estrato social diferente do meu (ascendente ou descendente), ou porque estão na China,ou porque são bad boys... eu sei lá... O desafio atraíu-me sempre. As minhas paixões mais assolapadas encontraram sempre expressão ou em mistérios ou em pessoas completamente diferentes de mim o que, só por si, consubstanciava, um desafio gigantesco. Uma coisa é certa: rapazes bonzinhos, com ar de ‘eu tratava bem de ti’, vá-se lá saber porquê, não me aquecem, nem me arrefecem....
Dia 2Magnífico sumo de laranja natural, acompanhado de croissant de fiambre aquecido com manteiga derretida (eu não tinha nas minahs resoluções de Ano Novo, decidido que nunca mais comia croissants??); Fiz duas boas acções do dia (avisei o casalinho de namorados que estava na esplanada que as tostas já estavam prontas à espera deles no balcão; e a apanhei as moedas que a senhora de aspecto estranho/espanholado fez cair ao descer as escadas);
Encaminhei-me depois para uma busca quase inglória para comprar revistas (quiosques fechados): “mas ninguém lê jornais nesta terra?” E depois estendi uma toalhinha na areia e fiquei a ver o mar de fora rebentar numa onda só, desde um pontão ao outro, toda a mesmo tempo, naquela força descomunal do mar e com aquele som de fundo que afasta todos os espíritos maus que nos possam circundar. Assim pus a leitura da Grazia e da Flash em dia, não sem antes barrar a cara com um factor de protecção 50+.
Ainda de dia 2 (o meu primeiro dia de praia deste ano)Entretive-me a ler o Monge que Vendeu o Ferrari na esperança de encontrar alguma luz para a minha vida. O facto de ter deixado o telemóvel em casa fez-me de repente sentir-me perdida, mas depressa encontrei nas velhas tradições balneares forma de ocupar o meu tempo. Então fui molhar os pés à beira da água e nada fazia crer que estavam os 16º previstos pela Metereologia. Arrisco a dizer que estaria uns aguentáveis 19º. Escrevi o meu nome na areia com uma daquelas canas molhadas que o mar arrasta e ao meu primeiro nome adicionei o apelido Feliz. Dizem que quando verbalizamos as coisas acontecem mais facilmente. Ora aqui estou eu, com todas as técnicas mais rudimentares do mundo, um pau e grãos de areia, a exteriorizar o meu desejo.
Apanhei madrepérolas e cochas de formas estranhas, peguei numa estrela e soltei num grito quando percebi que se mexia e estava ainda viva... olhei e contemplei a força do mar.
Limpei os pés e voltei a calçar os ténis hi-tech, enfiei a custo as calças de ganga e a t-shirt cor de laranja e voltei encalorada ao carro. Mais feliz do que tinha saído.
Boas AcçõesNa terceira boa acção do dia fui à farmácia local comprar o meu baton do cieiro preferido (o melhor que existe no mercado) para uma amiga da minha mãe, já meio velhinha, que não sabe tratar disso sozinha. O farmacêutica, filho de uma amiga da minha mãe, cumprimentou-me efusivamente e perguntou se eu estava de fim-de-semana (óbvio, né?) Depois perguntou se ia sair ao noite, ao que eu balbuciei “Bem.. ainda não tenho nada combinado”... quando na verdade me apetecia era dizer” Então e onde é que tu vais? Também posso ir?”; acabou a afirmar que ia sair com o Paulinho não sei das quantas, que trabalha no bar XPTO (e que é só um dos miúdos mais giros da terra)... E eu saí com um sorriso amarelo e um breve aceno.... (ainda tenho esperanças que a mãe dele ligue à minha apedir o meu número... Ora aí estava uma boa acção!!!)