Monday, February 06, 2006

Somebody to love

Saio com um passo seguro de quem sabe para onde vai. Desço pelo elevador, quase sempre sozinha, para ouvir os meus passos a ecoarem, em seguida, no parque de estacionamento. À hora que saio é fácil identificar o meu carro naquele parque já vazio. E num gesto automático entro, pouso a mala, o saco, e levo o carro para mais perto do elevador que dá acesso ao centro comercial e aos cinemas. Nem chego a pôr o cinto. Nem chego a sair do parque. O lugar onde estaciono é sempre o mesmo. Retoco o baton do cieiro e ajeito o cabelo no espelho da pala do carro. Saio e, invariavelmente, escorrego numa poça de óleo que algum carro sempre derrama no pavimento brilhante. Chamo o elevador e subo. Tempo só de escolher timidamente o filme na bilheteira, onde o cartão me paga a entrada hoje, e amanhã, e depois, sempre sem pagar.

Tempo para umas pipocas ou para um cachorro, quando não jantei. Começo a gostar destes meus novos hábitos. Não jantar. Petiscar qualquer coisa. Não ir a correr para casa. Mas entrar neste mecânico arrastar-me para uma sala de cinema. SOZINHA. Pois claro...

Entro na sala já às escuras. Para que no escuro não percebam que sou eu. Só eu. Escolho um lugar da lateral. Solitário. E sento ao meu lado as pipocas ou a garrafa, ou o copo de sumo. As apresentações já acabaram e agora posso refugiar-me na minha cadeira sem que ninguém me julgue por estar ali sozinha ("Não tem amigos? coitada... " "Não tem namorado" "Ou será apenas uma grande amante de cinema?") Ou será que sou eu que me debato com estas conjecturas sobre mim?? Talvez seja um misto dos três...

O filme termina e a presso-me a descer. O fime de hoje? "Jarhead". Um retrato de um conjunto de homens talhados para uma coisa e uma só (confrontar e matar o inimigo) e cujas expectativas redundam em frustração, porquanto são gorados os seus obejectivos. Abandonam uma guerra que idealizaram e que nunca se concretizou para eles.

Saio da sala com o mesmo gesto mecânico com que entrei. Nem triste, nem alegre. Simplesmente em passo rápido e automáticoEntro no carro, saio do parque e penso no cd que tenho no porta-luvas. O Unplugged do George Michael. Penso numa música específica. Ligo o rádio e eis que as ondas coincidem com os meus desejos. "Can anybody find me somebody to love?..." Sinto-me meio Jake Gillenhall, ainda no meio do deserto, apesar de já lá não estar e penso que nunca mais encontro alguém para ir comigo ao cinema.

2 Comments:

Blogger André Parente said...

Gosto de ver pessoas sozinhas no cinema...

4:12 AM  
Blogger lénia rufino said...

não tendo outra forma de o fazer... parabéns, mariana!!

dá-me 2 dias que eu já te apanho!

bjinhos (e ainda bem que gostaste de Become Not!)

3:57 AM  

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